quinta-feira, 8 de novembro de 2018
quinta-feira, 1 de novembro de 2018
ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2018: a Ascenção de um mito!
Artêmio Macedo Costa*
Enfim, podemos
ter a partir de agora uma clareza melhor do que teremos à frente pós eleições
de 2018. Não busco aqui analisar a estrutura de programa presidencial do então presidente
eleito, Jair Messias[1]
Bolsonaro, em sua totalidade, mas, uma característica ideológica crucial em seu
discurso de posse em que toda sua campanha disse ser um combatente às
ideologias.
Ao concluir seu
discurso após o anúncio do resultado do pleito presidencial, o jornalista
representando o conjunto das emissoras brasileiras pergunta ao Jair Messias Bolsonaro
o que ele fará para constituir uma unidade nacional, dentro da conjuntura de
conflitos contundentes que se arrastaram durante todo o processo das eleições. Os
conflitos entre os eleitores pró e contra Bolsonaro tiveram várias agendas
ligadas à questão da violência, aos direitos humanos na luta contra a
homofobia, feminicídio, questões relacionadas ao meio ambiente referente a
questão indígena, mas o que mais toca à minha análise está ligada à questão
quilombola, especificamente, ao conflito territorial entre as comunidades
remanescentes quilombolas de Alcântara-MA com o Estado brasileiro para a
expansão do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).
Em sua
resposta, Jair Messias Bolsonaro foi enfático declarando-se segundo suas
palavras: “Não sou Caxias, mas sigo este grande herói brasileiro”, reiterando
sua postura como representante maior da Nação brasileira com a mesma carga
ideológica que Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, famigerado
assassino de Negro Cosme, líder do quilombo Lagoa Amarela na vila de Caxias na
luta pelo fim da escravidão, tornando-se o patrono do exército brasileiro no
desmonte da rebelião escrava na Balaiada ocorrida na regência do Império
brasileiro em 1838-41, e desta forma o trata como símbolo.
Seu discurso
ideológico patriótico salvacionista, esconde o verdadeiro caráter das
contradições que regem a sociedade capitalista ao retratar os interesses de uma
classe dominante elitista conservadora em sua manutenção do status quo diante da condição de luta
pela liberdade, dignidade e definição de visibilidade social negada aos
remanescentes quilombolas de Alcântara, são reforçados com a confirmação de seu
anúncio do futuro Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, o astronauta
Marcos Pontes, pois, estamos passando por uma transição com o governo golpista
de Michel Temer, já acenando a definição do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas
(AST) entre o Brasil e os EUA.
Em que consiste as contradições apontadas?
Em primeiro
lugar, para definição do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST), o Estado
brasileiro precisa reafirmar uma garantia básica de infraestrutura para a
expansão territorial do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) para construção
de novos sítios de lançamento de foguetes, atendendo assim às tratativas dos
ASTs. E esta definição de expansão do CLA trás um conflito direto entre as
comunidades quilombolas de Alcântara, uma vez que as mesmas já sofreram
deslocamentos compulsórios no início das atividades do programa espacial
brasileiro na década de 1980 e que até hoje, mesmo com a Constituição de 1988 em
dar garantias constitucionais de direito territorial, até hoje não foi
constituído e o AST conduzido até o momento pelo Estado brasileiro não trouxe
nenhuma resolução deste direito territorial quilombola. Jair Bolsonaro já
apresentou antes do processo de campanha eleitoral uma desarmonia em seu
discurso, em que tratou comunidades quilombolas de maneira desrespeitosa
(tratando-os como arrobas de bois) e sem um mínimo de cuidado analítico no
princípio da antropologia social a qual as comunidades quilombolas sempre
estiveram, segundo a socióloga Lourdes Bandeira, em uma invisibilidade
expropriadora.
Para além da
ausência (um eufemismo para boçalidade) de uma interpretação antropológica
social que Jair Messias Bolsonaro deverá ter com as comunidades quilombolas de
Alcântara, ao contrário de seu slogan “Brasil acima de tudo: Deus acima de todos” [2]
trata o modelo macroeconômico do Ministério da Fazenda, tendo como ministro o
economista Paulo Guedes, cuja doutrina se define pelo Neoliberalismo, contrário
a uma necessidade de desenvolvimento dentro de um paradigma desenvolvimentista
capitalista que desrespeita valores democráticos dialógicos com os direitos
humanos, ambientais e étnicas definidas há 30 anos pela Constituição de 1988.
Está bem claro
os rumos que seguirão na política espacial brasileira que define um panorama
traumático quanto a Soberania dos Povos Quilombolas, Soberania Nacional com a
entrega do CLA para os interesses imperialistas dos EUA, como a manutenção da
reestruturação produtiva do capital transnacional em que podemos qualificar
toda esta dinâmica geopolítica como o geógrafo David Harvey define dentro do
paradigma da “acumulação por desapossamento”.
Uma
ascensão meteórica de um candidato falastrão, mas, que, em todo seu discurso
midiático assessorado por um marketing da fake
news em uma dinâmica constituída nas redes sociais, apresentou-se dentro da
aparência de um iceberg virtual em que seus eleitores são orientados pelo
discurso do senso comum pós-moderno pelo “fim das ideologias” fundamentado pelo
historiador Francis Fukuyama nos anos 1990 com o fim da Guerra Fria. Jair
Bolsonaro, idolatrado como Mito, ainda sustenta um discurso de combate anacrônico
da pregação messiânica anticomunista, ao definir-se como “escravo da
constituição” de 1988, mas, um eterno apologético da Ditadura Militar de 1964 e
quiçá, restaurador da Constituição fascista de 1967. Um político controverso,
com um discurso ideológico “antissistema”, só trazem incertezas insólitas
pós-modernas para o devir de toda a sociedade brasileira que tenta amadurecer
os 30 anos da Constituição de 1988 sob uma égide sombria da restauração do
Golpe de 1964. Estamos sob o olhar do “Grande Irmão” descrito por George Orwell
da obra 1984.
* Historiador,
mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Socioespacial e
Regional/PPDSR da Universidade Estadual do Maranhão.
[1] É
preciso caracterizar aqui o segundo nome de Bolsonaro, bastante enfatizado nas
campanhas oficiais, pois até então só se denominava “Jair Bolsonaro”. É
essencial tomar este cuidado, pela força ideológica a qual o direcionamento de
sua campanha ter tomado uma relação profunda de adesão da camada neopentecostal
conservadora da igreja evangélica. Tanto que seu slogan “Brasil acima de tudo: Deus acima
de todos”, tanto marcado no início de seus pronunciamentos oficiais das
propagandas políticas, quanto hoje em seu discurso de vitória, está arraigada
também com a passagem bíblica de João 8:32 “E conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará”, traz uma relação profunda de um modelo fascista que sempre
caracterizou regimes ditatoriais militares.
[2]
Que todos os orixás protejam os quilombolas de Alcântara do deus de Bolsonaro!
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