sexta-feira, 3 de maio de 2013

A DEMONIZAÇÃO DO ROCKEIRO LOBÃO - FAZENDO O PAPEL DO ADVOGADO DO DIABO

O que há por trás da falsa ideia sobre a democratização do acesso à mídia, da cultura HIP HOP que antes era vista como marginal e hoje cultuada dentro de uma linha “underground de mercado”.

Muitos vão colocar dentro de uma percepção de que “se não pode com o inimigo, junte-se a ele”. No entanto é através da absolvição de valores antes postos como inimigos do sistema, e assim perigosos em uma perspectiva de abalar o status quo de grandes corporações midiáticas, é que vem a solução de absorvê-los em prol do controle social de uma massa que cada vez mais clamavam por espaço de consumo, antes negligenciados.

É o que observamos doravante a estética do grafite se incorporando numa concepção dinâmica de urbanidade nas propagandas, aberturas de novela, mais recentemente a atual novela das 7 da Globo “Sangue Bom”, e anteriormente na novela Cheias de Charme. Temos também o break muitas vezes sendo criados concursos no programa da Xuxa com as famosas batalhas. Porém, apoteose do chamariz midiático se dá com a absorção de rappers cada vez mais presentes, mais uma vez, temos o rapper EMICIDA com uma música na trilha sonora, além de se apresentar na abertura da novela “Sangue Bom” com um Flash Mob.

Esse assédio vem de muito tempo, quando o grupo Racionais MC’s estourando nacionalmente por conta própria demonstrava ojeriza à grande mídia, em especial à Globo. Denunciando sempre as mazelas que representam a grande mídia, sempre representaram a pedra no sapato das grandes corporações no afã de atingir esse segmento da sociedade (periferia) visto com muito receio e com tendência perigosa crescente, pelo fato de estarem construindo uma possibilidade de ruptura de valores burgueses.

Então, como atingir o “calcanhar de Aquiles” do Movimento Hip Hop?

Como verdadeiro “presente de Grego”, vários artistas se submetem a projetos com uma fachada de cunho social para abranger seus horizontes, se submetem a enveredar institucionalmente aos caprichos do sistema capitalista, acreditando ser uma via dentro de uma projeção de humanizá-lo, todavia ignoram de fato caírem em seu real interesse, suprimir qualquer caráter de classe dentro do antagonismo que se encontra as estruturas sociais que exercemos.

Vários artistas nacionais de ponta trazem em suas relações cotidianas contradições que viram meu estômago, não me submetendo qualquer simpatia por eles. Infelizmente a grande maioria ignora as posturas avessas desses ditos representantes da periferia por estarem ofuscados pela estética pseudo-subversiva escondida em seus versos inflamados.

Um exemplo é o MV (Mensageiro da “Verdade”) Bill, representante da CUFA. Um episódio não me sai da cabeça. Em 2000, quando veio apresentar pela primeira vez seu trabalho em São Luís, a rede de educação pública estava em greve e acampada em frente à antiga sede do governo do Estado no Palácio Henrique de La Roque. Simplesmente ele não desceu do carro para cumprimentar os grevistas (para mim uma postura desproporcional para quem luta com o microfone contra a opressão de classe). Mas o mais marcante das contradições não mora ai, e sim pelo fato da CUFA está atrelada a uma política partidária de uma pretensa esquerda que manipula uma visão hoje orientada pela conciliação de classes em uma atmosfera pretensamente harmoniosa de uma sociedade caminhando para uma superação da miséria social por conta do “reformismo” neoliberal que mantem a concentração de renda intocável.

Retomando o nosso ícone Racionais MC’s, mesmo tendo um histórico de humildade e perseverança na luta contra o sistema, à medida que veio lapidando a carreira, em certos momentos foram tragados pelo fetichismo da fama. Um episódio também foi marcante para eu perder a referência do grupo. Em sua primeira apresentação aqui em São Luís, já percebia uma ostentação por parte de alguns componentes, que me fez inclusive não querer assistir ao show. Para minha surpresa, soube dos bastidores antes de subirem ao palco toda uma arrogância típica de show-men capitalistas e da pior estirpe.

Porém, esse é o sentido mais simples e de menor significado em ver os Racionais MC’s como um subproduto dessa nova configuração em que está se formando o movimento Hip Hop que antes era visto como independente, underground e com potencial transformador social, para passar a ser visto como mais um elemento cultural promissor de um nicho de mercado do sistema capitalista e legitimador da superestrutura política da pretensa pseudo-esquerda a qual Mano Brown, Líder do grupo Racionais MC’s ter demonstrado sua afinidade com o PT, em especial em época com campanhas pró Lulismo.

Hoje fiquei surpreso com todo estardalhaço em que as pessoas incomodadas com os comentários proferidos pelo rockeiro Lobão, em especial sua análise ácida a respeito de Mano Brown e da presidente do Brasil, Dilma Roulsseff. Diria que muito lúcidas e pertinentes!

É preciso, porém, esperar dá uma apreciada no teor do livro em sua essência, que por sinal estou ansioso, pois lança uma proposta iconoclasta de nosso modelo cultural muito engessado e segundo suas palavras: academizado e lançado em uma ortodoxia de uma proposta nacionalista da época da Semana de Arte Moderna de 1922.

A meu ver, as pessoas que estão demonizando Lobão estão vendo em uma perspectiva de divinizar as figuras contestadas por ele, não enquanto suas figuras pessoais, mas sim por conta de uma moldagem artificial que se estabeleceu dentro dos padrões culturais que vigoram tais estruturas desproporcionais de um ideal que visa transformar a sociedade em seus discursos.

Os Petistas e PC do Bestas estão, por exemplo, se comportando da mesma forma que os stalinistas no começo da guerra fria do século XX, que em nome de combater o eixo capitalista, sustentava todas as atrocidades institucionais do comunismo real. Daí se tem uma justificativa nas argumentações acerca do dito “conservadorismo”, “derrotismo” representados no mais novo livro de Lobão, “Manifesto do Nada na Terra do Nunca”. É aquela velha máxima em quem não obedecer à doutrina “revolucionária” de suas siglas, serão considerados contra-revolucionários.

O fulcro está se abrindo, e a putrefação dos ranços das políticas culturais estão exalando e incomodando a todos que não ousam romper a fronteira da tranquilidade e ponderação da dita normalidade social em vigor.

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