quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

APOLOGIA À DITADURA AFRICANA REINA NO CARNAVAL CARIOCA EM COMEMORAÇÃO DE SEUS 450 ANOS.


Acreditar que o Mito da Democracia Racial prevalece e que o Carnaval Carioca é símbolo da superação das desigualdades étnico/raciais é acreditar nos contos da carochinha...

Isto ocorre justamente quando a Beija-flor de Nilópolis conquista o desfile da escola de samba de 2015 com o samba enredo homenageando a Guiné Equatorial, em que teria recebido R$ 10milhões do Ditador Teodoro Nguema Obiang.

Isto tudo não me surpreende pelo seguinte fato, o Carnaval, como diria Racionais MC’s, não é mais a festa do povo, ..., muito menos o próprio Racionais... Mas isto é uma outra história.

Não sou um profundo estudioso da cultura, até porque minha leitura acerca da historiografia não me apego ao culturalismo, hoje em dia cada vez mais influenciada pela pós-modernidade. Minha preocupação enquanto historiador cabe mais a uma história problema em que as ações sociais são mais fundamentadas diante de uma discussão consequente em sua práxis, contrária a que muitos historiadores atribuem à história como mero discurso, de uma mera narrativa de ideias soltas.

E tendo como base um estudioso sobre a cultura e música popular que sempre admirei, José Ramos Tinhorão, sempre abordou problematicamente os rumos em que as Escolas de Samba e o próprio samba em si, ingenuamente, conduziu a “Evolução” do samba como pretensa ascensão social dentro de um mundo capitalista que promove desigualdades cada vez mais profundas.

Este ano marcou 450 anos da Capital do Samba, uma data emblemática de comemoração em seus aspectos bastante forme e evidente na grande mídia e no imaginário popular. E em seu estudo em um livro chamado “Música Popular: um tema em debate”, Tinhorão remonta ao IV centenário:

“O desfile das escolas de samba marcou, no carnaval do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, o ponto culminante da festa no que ela tem de espetáculo, mas fixou, também, o instante histórico do início da sua rápida desagregação como fenômeno folclórico.”
(...)
“As escolas de samba constituem, aliás, a última criação das camadas populares ligadas à tradição de costumes herdados da estrutura baseada no latifúndio.”


Muitos acreditam serem muito afiadas as análises de Tinhorão a respeito do que representa socialmente a desagregação popular na formação da elitização do samba, mesmo ainda convivendo superficialmente a uma falsa ideia de estética de tradições... Mas não é em nada comparado ao que o escarro dos ditos carnavalescos promovem 50 anos depois da temporalidade em que o jornalista como navalha no lugar da língua (herdando metaforicamente o velho malandro em defesa de sua cultura) faz ao promover um país mergulhado há décadas em uma ditadura e que expressa assim como a herança do samba uma estrutura que se tentou superar como dito acima – herdados da estrutura baseada no latifúndio – e os oligarcas (cartolas) do samba vêm a agradecer a vitória da imagem universal do capitalismo hegemônico.

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